O Nordeste e o Brasileirão: Dificuldades, Conquistas e Representatividade
Com 10% de representatividade do Nordeste na Série A, 2 times de 20, o Brasileirão 2023 está para começar. Conta que já foi de 50% em 1962 com 9 times na Taça Brasil, também já foi de nenhum time em 1967 no Torneio Roberto Gomes Pedrosa. Número atual se aproxima mais do PIB (13,6%) do que da População (30%).
Se por um lado as dificuldades econômicas e geográficas castigam as possibilidades. Por outro, a paixão e a identidade movem o futebol nordestino. Na Copa do NE assistimos média de público competitiva com os principais campeonatos estaduais do País.
A nível continental o NE também mostra sua força. Em 2022, por exemplo, o Fortaleza teve os dois maiores públicos da Libertadores na fase de grupos (Colo-Colo - 50.429 pagantes e River Plate - 48.867 pagantes), seguidos da maior média. O público foi superado somente nas oitavas de final em Flamengo x Tolima.
Somada a média de público recorde da primeira fase da competição, em 2023 o Fortaleza foi o 1° nordestino a disputar a Libertadores por dois anos seguidos, um ano depois de ter sido o primeiro a se garantir na competição continental por pontos corridos. Antes do Fortaleza, Bahia, Sport e Náutico já haviam participado da Libertadores. Nenhum, entretanto, conseguiu duas participações em sequência.
Dentre as dificuldades enfrentadas pelos times do NE, a distância tem um papel especial em virtude do Calendário. Para ficarmos no Leão do Pici, em 2022 aconteceram os jogos São Paulo (casa 8/5), Vitória (fora 12/5), Botafogo (fora 15/5), Alianza Lima (fora 18/5) e voltando para o CE contra o Fluminense (22/5). Em 15 dias o Fortaleza jogou 5 partidas e percorreu em linha reta 10362km.

Na prática nem sempre o vôo é fretado, aumentando ainda mais a distância. São Paulo, Minas Gerais e Brasília são os principais HUBs utilizados. Abaixo segue a distância em linha reta que cada clube terá que percorrer para jogar a Série A do Brasileirão de 2023.
As colocações não supreendem: Fortaleza em primeiro, Bahia em segundo. A surpresa se revela na disparidade entre o primeiro (CE) e o último (SP). O Fortaleza tem que percorrer aproximadamente 4x mais que os times de SP no Brasileirão. O que é ainda mais difícil em um calendário apertado.
Histórico Recente na Série A
De 2009 a 2022 o NE amargou 15 rebaixamentos na Série A em contraste com apenas 39 participações. Após 4 anos com 4 participantes (recorde na era dos pontos corridos), o NE por 2 anos seguidos (2022, 2023) segue com 2 participantes.
Título e Vice Campeonato nunca foram conquistados, o mais próximo foi o quarto lugar do Fortaleza na campanha de 2021. No contexto continental, somente nos anos mais recentes a região conseguiu acesso à libertadores (2021 e 2022), por outro lado constantemente consegue acesso à sul-americana. Em 2023 teremos Fortaleza e Bahia disputando a taça.
Histórico Recente na Série B
Na Série B contamos outra história. A representatividade do NE se aproxima da demográfica (30%). Título, apenas em 2018 com o Fortaleza, por outro lado as classificações tem sido constantes.
Constância que também acompanha os rebaixamentos. Em 2009 e 2017 por exemplo a zona foi quase toda nordestina. Em 2023 a região contará com 7 times, melhor índice desde 2016.
Histórico Recente na Série C
Se na Série B há uma aproximação da realidade demográfica, é na Série C que essa conta é superada com 35% de representatividade média. Os Títulos também aparecem mais vezes, ABC (2010), Santa Cruz (2013), CSA (2017) e Naútico (2019). Vice Campeonatos são 6.
Com maior representatividade na Série C, também vem maior risco estatístico de rebaixamento. Os rebaixamentos são constantes, atingindo a pior marca em 2022 com 3 rebaixados. Em 2023 a Série C contará com 7 representantes nordestinos.
Histórico Recente na Série D
Na Série D Títulos, Vice Campeonatos e Acessos ocorrem o tempo todo. Foram campeões recentemente, Guarany de Sobral (2010), Sampaio Corrêa (2012), Botafogo-PB (2013), Ferroviário (2018) e o atual campeão América de Natal (2022).
A representatividade na Série D, de acordo com o regulamento de 2022, depende do RNF (Ranking Nacional de Federações), a melhor colocação é da FCF (Ceará) em 7°. Tal regulamento beneficia os times do NE pela quantidade de federações e prejudica por má colocação no ranking.
A Série D de 2023 terá 23 representantes nordestinos.
Senhores Críticos, Basta
Atualmente, apenas um clube nordestino figura entre os 10 primeiros no ranking da CBF: o Fortaleza, que ocupa a sétima posição. Em seguida, aparecem Ceará e Bahia, nas posições 14 e 15, respectivamente. Sport, CRB, CSA e Vitória completam a lista dos sete clubes nordestinos entre os 30 primeiros do ranking.
A baixa representatividade no ranking da CBF não significa estagnação. Na verdade, o futebol nordestino tem se reinventado e buscado novas formas de chegar ao topo.
Alguns atalhos diminuem essa distância. A copa do NE em 2014, 15 e 16 premiou o campeão com uma vaga na Sulamericana, nos anos subsequentes com avanços na copa do Brasil. Essas oportunidades têm permitido que clubes nordestinos ganhem mais visibilidade e, consequentemente, mais investimento.
O futebol nordestino pede passagem e caminha sem pernas em alta velocidade. Ele corre e também voa, muito. Ignorando o desígnio dado de coadjuvante, a região vive para ser protagonista.